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ATENÇÃO AO IDOSO

Pr. Jair da Cruz Lara

“Não repreendas ao homem idoso, antes,
exorta-o como a pai”, 1Tm 5: 1.
 

O Brasil está envelhecendo. O aumento da população idosa em nosso país é uma realidade visível. Estima-se que nos próximos 20 anos teremos mais de 30 milhões de pessoas no Brasil com a idade superior a 60 anos. Possivelmente estaremos entre as nações que mais possuam idosos do mundo. Portanto, é tempo de abrirmos espaços que os valorizem, descobrindo as necessidades e os desafios da terceira idade.

As Escrituras Sagradas valorizam muito o idoso. Na cultura judaica havia grande respeito por eles, Êxodo 3: 16-17. Em Levítico 19: 32 havia a seguinte ordem explicita: “Diante das cãs te levantarás, e honrarás a presença do ancião, e temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor”. A elevada consideração pelo idoso se resume no texto de Provérbios 16: 31: “Coroa de honra são as cãs, quando se acham no caminho da justiça”.

O envelhecimento começa a partir dos 30 anos de idade e, a cada ano, há perda de 1% das funções orgânicas. São alterações, em seu inicio discretas, normalmente imperceptíveis, que vão aumentando progressivamente, porém não causam insuficiência de órgão ou sistema. O ritmo da diminuição das funções orgânicas varia de um órgão para outro e de pessoa para pessoa. Duas pessoas não envelhecem da mesma forma.

O envelhecimento não pode ser encarado com pessimismo e falta de propósitos. Abraão, com quase cem anos, viu o cumprimento da promessa divina: “E O SENHOR visitou a Sara, como tinha dito; e fez o SENHOR a Sara como tinha prometido. E concebeu Sara, e deu a Abraão um filho na sua velhice, ao tempo determinado, que Deus lhe tinha falado”, Gn 21: 1-2.

A Igreja, como comunidade terapêutica, é um lugar onde as pessoas e os relacionamentos são mais importantes do que os programas ou atividades. Portanto, a igreja pode ajudar o idoso a viver melhor, a se relacionar melhor, a ter vida mais integrada com as outras faixas etárias, nos momentos apropriados.

Temos condições de desenvolver dentro das Igrejas locais vários programas que contemplam a melhor idade em suas necessidades, considerando seus interesses e necessidades peculiares. Isso melhorará sua auto-estima, seu relacionamento com Deus, sua vida espiritual, sua disponibilidade para tarefas, dentro da igreja, que condiz com sua faixa etária. Os pastores e lideranças locais podem encorajar mais esses servos de Deus.

Devemos preservar a auto-estima e os laços afetivos de nossos idosos, pois conhecemos um Evangelho que é para todos os homens, sem discriminação, sem exclusão. Este Evangelho dignifica o ser humano e traz novas perspectivas de vida. A Igreja é o Corpo de Cristo onde todos são importantes e têm onde fazer suas contribuições. Os dons e os talentos que Deus dá não envelhecem. Ao contrário, convivem com a possibilidade de que o tempo de atividade traga aperfeiçoamento. Os idosos têm importante contribuição a dar em nosso meio: “Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e florescentes”, Sl 92: 14.

Os irmãos da melhor idade estão de parabéns pela vida cristã já desenvolvida dentro das igrejas. Aqueles que um dia buscaram conselhos para vida e agora são conselheiros da vida. Que o Senhor esteja a assisti-los todos os dias. 


    Publicado no Jornal Aleluia de março de 2008, página 15
   

A mulher na História
Processos de exclusão e inclusão
dos valores femininos na sociedade

Pr. Flat James de Souza Martins
SPR de Cianorte, PR

 

 

Durante muito tempo a história foi escrita sob a ótica masculina e pela classe hegemônica, portanto esse tipo de estudo produziu um material restrito, refletindo apenas sobre a figura do homem como sujeito universal. Suas relações expressavam somente uma versão da história.

A figura da mulher raramente era apresentada pelos historiadores, só aparecia marginalmente na história. Margareth Rago defende que “todo discurso sobre temas clássicos como a abolição da escravatura, a imigração européia para o Brasil, a industrialização, ou o movimento operário, evocava imagens da participação de homens robustos, brancos ou negros, e jamais de mulheres capazes de merecerem uma maior atenção”.

Surge a pergunta: e a mulher onde estava durante todo esse tempo? Estava confinada ao espaço da vida privada, envolvida no cuidado com o lar, na educação dos filhos, na atenção com o marido; ocupada demais para ser percebida pela história, que até então se limitava em tratar da vida pública, domínio quase que exclusivo dos homens.

Na perspectiva da historiadora Joan Scott, somente nas últimas duas décadas é que a “história das mulheres” se definiu. Segundo Margareth Rago, a política feminista dos anos 60 foi o ponto de partida. As integrantes do movimento reclamavam uma história onde houvesse heroínas, demonstrando a atuação das mulheres na sociedade. Lutavam também para que a opressão que as sufocava fosse denunciada pela história.

Segundo Joan Scott, tanto profissões, quanto organizações profissionais são hierárquicas. Ou seja, incluem e excluem indivíduos da qualidade de membros, segundo seus próprios critérios; aqueles já profissionais atuantes se reservam o direito de julgar aqueles que ainda estão fora do campo profissional. “As mulheres, os negros, os judeus, os católicos e os não-cavalheiros foram sistematicamente subapresentados durante anos”.

Para Margareth Rago, o movimento feminista, anunciando suas reivindicações à sociedade, foi o princípio da inclusão das mulheres no espaço público do mercado de trabalho. Com a conquista desse novo espaço na sociedade elas passaram a ser notadas pelos historiadores.

Scott menciona o dilema da diferença homem-mulher, de acordo com Martha Minow, que explica que o dilema se dá pela própria construção da linguagem, onde o termo universal usado para se referir ao ser humano é “Homem”. É possível ainda perceber que a discriminação com a mulher está registrada na própria língua portuguesa, visto que a língua acaba por refletir a cultura do povo através de junções de características comuns.

De acordo com Maria Eunice Figueiredo, o significado do termo Mulher encontrado no dicionário, é um tanto discriminatório. Já em relação ao termo homem, não se pode dizer o mesmo.

Guedes afirma, citando Scott, que a mulher está fora do inominável, a lingüística está construída no masculino. De acordo com Scott: “... reivindicar a importância das mulheres na história significa necessariamente ir contra as definições de história e seus agentes já estabelecidos como verdadeiros ou pelo menos como reflexões acuradas sobre o que aconteceu (...) no passado”.

O domínio que os historiadores objetivavam ter do passado era parcial, já que, pelo que se pode ver na maioria das produções historiográficas, somente o homem aparecia enquanto sujeito da história. Através dos estudos realizados, eles privilegiavam apenas uma versão da história, que retratava a vida pública, esfera na qual a mulher por muito tempo não existiu.

Nesse sentido, existe ainda o problema das fontes. A historiadora Michele Perrot afirma: “há uma carência de pistas no domínio das fontes com as quais se nutre preferencialmente o historiador, devido à deficiência dos registros primários”. Ou seja, a autora explica que aqueles a quem cabia registrar a história, no caso, homens administradores, policiais, juízes e padres, efetuaram raras evidências da mulher na história.

Perrot cita exemplos de fontes onde é possível encontrar informações distintas para reconstituir a história das mulheres; além das fotografias pode-se buscar informações nos arquivos familiares, atas e outros documentos privados: “... nos quais preservam os anais do lar, as correspondências familiares cujos escribas habituais são elas, os diários íntimos cujo emprego é recomendado às jovens solteiras pelos confessores e, mais tarde pelos pedagogos, como uma forma de controle sobre si e que constituem um refúgio de escritos de mulheres, domínio cuja imensidão tudo atesta”.

Esses registros, porém, são comumente destruídos pela família e de difícil acesso, uma vez que expõem a vida privada da família. Durante a pesquisa que busca fontes para se fundamentar, pode-se recorrer às fontes orais, no caso em análise os filhos dos imigrantes judeus.

A história oral proporciona às mulheres, assim como a todos que foram silenciados pela história, a oportunidade de ganharem voz, saindo do anonimato a que foram confinados durante séculos. Contudo, não é incomum que os historiadores que realizam pesquisas enfocando a temática da mulher, ou seja, uma história de mulheres, sofram agressões morais e tentativas de relegarem seu trabalho, acusando-o de não histórico.

Existem muitas produções historiográficas que apresentam a mulher como tema. Além da obra de Margareth Rago, cita-se a de Sasffioti - A mulher na História; a de Hahner - A mulher brasileira e suas lutas sociais e políticas; e outras.

As obras, segundo Rago, vão revelar a preocupação em evidenciar a presença da mulher como ser atuante da década de 80. Estas colaboraram: “...reinventando seu cotidiano, criando estratégias informais de sobrevivência, elaborando formas multifacetadas de resistência à dominação masculina e classista... confere-se um destaque particular a sua situação como sujeito histórico, e portanto, a sua capacidade de luta e de participação na transformação nas condições de vida”.

Tomando por base a ênfase que a autora tem dado ao período da infância, não é de se espantar com a visão contraditória que ambos têm do casamento. São criados de maneira oposta e depois a sociedade quer que construam uma vida em comum. Depois a sociedade critica a mulher, atribuindo-lhe fama de má motorista, ou ao homem por não desempenhar bem o papel de pai.

Essa situação começou a mudar com a mulher conquistando seu espaço na vida pública. Ela passou a ter mais autonomia na escolha de seu futuro. A liberdade vem como o intuito de preencher o sentimento de segurança que tanto se busca.

Acredito que o problema é que a mulher jamais foi treinada para a liberdade, e sim para a dependência. Ela se depara com a negação de tudo que acreditava ser correto e a mudança de seu comportamento se dá lenta e gradativa, como qualquer mudança. É comprovado cientificamente que a mulher não é menos capaz que o homem, possuindo a mesma capacidade de aprender e produzir.

De acordo com os estudos psiquiátricos de Alexandra Symonds, citada por Colette Dowling, a dependência é um fenômeno que ataca basicamente mulheres. Presume-se que é fruto da educação feminina, onde as mulheres são ensinadas a serem dependentes, o que torna comum essa dependência em bons ou seguros casamentos, com um marido que lhe dê segurança psicológica e financeira. Essa atitude é conseqüência das condições impostas pela própria sociedade. 

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